quinta-feira, 7 de maio de 2015

Sobre a nostalgia

Se tem uma coisa que não suporto é nostalgia. Na verdade, não tenho nada contra aquela nostalgia "do bem" que sentimos quando nos lembramos de um momento bom que passou ou de uma pessoa que se foi. O que me incomoda é a nostalgia do tipo "no meu tempo é que era bom". Esse tipo de nostalgia, que está na base de muitos pensamentos conservadores que vejo por aí, coloca o presente sempre como algo inferior, quase como uma sombra ou um esboço malfeito de um passado idealizado. Aposto que no tal tempo em que a pessoa se refere as pessoas - e talvez ela própria - diziam a mesma coisa e colocavam a "felicidade" ou a "ordem" ou " pureza" em algum lugar, ainda mais distante no passado. Simplesmente não suporto quando ouço, ou leio, ou vejo, pessoas dizendo que no "seu tempo" as coisas eram melhores. Em alguma medida elas podem até ter razão ao afirmar que as coisas eram diferentes de hoje. Mas isto não significa que o mundo e as relações eram melhores. Não que o mundo hoje seja perfeito. Pelo contrário, vejo tanta coisa errada que nem saberia por onde começar a listar os seus problemas. Mas o mundo é o que ele é e o tempo segue para frente. Desejar um retorno a um passado idealizado onde tudo - teoricamente - funcionava e onde as relações eram mais simples e menos "líquidas" é de uma ingenuidade sem tamanho. Isto não significa, contudo, que as mudanças não são possíveis. Pelo contrário, significa que as mudanças ocorrerão de formas imprevisíveis a partir do presente e em direção a um futuro que não sabemos exatamente como será e não como um retorno a um passado. Como diria o mestre Georges Canguilhem, em sua brilhante análise dos processos de saúde e doença, "a vida não conhece reversibilidade". E é por isso, que segundo o autor, não devemos falar em cura como um retorno à uma “inocência orgânica”, mas como um rearranjo, uma nova forma de vida. Curar-se não é voltar ao que se era mas sim desenvolver uma nova forma de ser. Portanto, se desejamos "curar" o mundo devemos caminhar para frente e não para trás.

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